terça-feira, 7 de abril de 2009

Austrio Liennar, O Druida

Família de camponeses. Fazenda auto-sustentação. Várias famílias camponesas viviam ali, sendo um ambiente muito amistoso e tranqüilo. Durante a gestação, um dragão passeava pelo vilarejo assustando a todos sempre. Todavia o dragão não fazia nada, apenas parecia proteger essa gestação que acontecia naquela vila distante. Ao mesmo tempo, uma senhora, nunca vista ali, aparecia constantemente, vindo da floresta e era sempre menosprezada pelos moradores, sendo que somente minha mãe tinha a nobreza de alimentá-la e ajudá-la quando ela aparecia isso sempre às escondidas. No parto, com os gemidos das dores pela mãe, vários clarões por relâmpagos no céu apareciam como se o tal dragão estivesse sentido as dores daquele parto. Os moradores do vilarejo, extremamente assustados, largavam os festejos do nascimento de lado e corriam para tentar proteger suas famílias e seus animais. Enquanto isso, eu vinha ao mundo em meio a um enorme grito de dor gerado por minha mãe e um grande clarão causado por um enorme raio explodindo nos céus, transformando aquela noite em segundos de dia, com o clarão por ele causado.
Quando todos partiram de minha casa, a primeira pessoa a aparecer foi a tal velha de seus 70 anos, cabelos castanhos embolados e atrelados a pequenos pedacinhos de cipó e folhas. Tal mulher trouxera consigo uma caixa pequena feita em ouro e madeira trabalhada com a tampa cravejada de jóias. Dentro da pequena caixa, havia um cordão feito de finas tiras de couro e um pingente de bronze com um toque azulado de envelhecimento. Praticamente, nada foi dito naquele momento. Um silêncio tomou o local e praticamente paralisou todos na sala. Com exceção de minha mãe, que sorria enquanto tal mulher aproximava-se, meu pai a porta, a parteira e suas 2 ajudantes, como se sobre um esforço sobre humano, esbravejavam e resmungavam para que o presente não fosse aceito, quebrando assim o silêncio do local. Alegavam que tal presente seria fruto de um furto ou algo parecido, que tal senhora faminta e pedinte chamais poderia ter algo do gênero, principalmente para presentear alguém. Mandando todos se calarem gentilmente, com alegações de um dia feliz, de paz e comemoração a uma nova vida, ela aceitaria o presente e não gostaria de ser questionada, o que fez todos acatarem a decisão, mesmo a contragosto.
Durante os anos que se seguiam eu aprendia com meu pai algumas pequenas coisas ao se tratar de lidar-se com animais e por causa do meu apego a eles, por vezes esquecia o trabalho e iniciava uma brincadeira que não parecia ter fim. Tal atitude gerava-me a discriminação de outras crianças quanto a minhas atitudes, e por vezes eu me via apenas entre os animais, o trabalho e minha casa. Certa vez, já com um pouco mais de idade, aos 10 anos, se me lembro bem, brincando com pequenos filhotes de lobos que aparentavam estar perdidos, sem perceber adentrava a floresta com uma paz e uma naturalidade jamais existente em minha casa, ou em qualquer outro lugar que já presenciei. Embora meu pai já tivesse avisado anteriormente por inúmeras vezes para não adentrar a floresta, pela existência de animais perigosos, o local me atraia como se o próprio ar que respirava proporcionasse um doce chamado. O tempo passava sem que eu desse conta da transformação do dia em noite e quando dei por mim, não mais sabia retornar. Correndo ofegante em uma tentativa de retornar por onde vim, deparei-me com a criatura mais bela que havia visto até então em minha vida. Um gigantesco urso, do tamanho de uma carroça, erguia-se sobre as patas traseiras e emitia um som feroz, enquanto agitava suas patas dianteiras com enormes garras. Esta diante de mim naquele momento um enorme urso, e estranhamente, naquele momento, o que me paralisou não foi o medo e sim a beleza de tal criatura. Em um bater de bengala em uma arvore, tal velha, que no passado fizera parte de minha vida, atraía a atenção do urso, e com um, ou talvez 2 gestos, com sua outra mão, faziam deitar-se em silêncio e ela caminhava serenamente em minha direção. Durante seu caminhar, um leve toque sobre a cabeça do urso e posteriormente diante de mim, sobre a minha. Em silêncio, a senhora caminhava por entre a escuridão das árvores e eu a seguia de forma curiosa, tentando ainda compreender o que tinha acontecido. Atrás de mim, uma passada forte se mostrava presente e embora não necessitasse virar-me para ver o que era, tinha certeza de que o urso estava lá. Pingos de chuva iniciavam sua queda do céu, transformando-se rapidamente em um grande temporal. Em uma cabana humilde, adentramos. Apertados, nos abrigamos daquele inesperado clima.
Nada me foi dito aquela noite, apenas uma tigela de sopa quente ofertada em pleno silêncio. No dia seguinte e no decorrer nos dias que se passaram tal senhora apresentou-se como SEYFRIED, sendo ela membro da minha família. Ela explicou-me sobre um parente antigo ter sido um dragão que ao apaixonar-se por uma escrava, a libertou e junto a ela formou família e assumiu a forma humana, esperando assim passar todos os seus dias em um pequeno vilarejo. Sem saber que era perseguido, anos depois, caçadores de dragões o encontraram e prevendo que sua família e amigos poderia sofrer, ele entregou-se e assim caminhou para morte. Dizem que em algum lugar da velha montanha dos anões, existem escritos antigos que relatam mais sobre os dragões desta espécie. Acredita-se nesse fato, já que os dragões no passado, buscavam as maiores montanhas para abrigarem-se. HESPÉRUS (estrela da manhã) era o nome do ancestral, sua morte, sua esposa e filha, na época, com 16 anos, partiram do vilarejo e adotaram uma vida errante, viajando sempre, sem parar em lugar algum. Com o passar dos anos, Allegra envelhecia e tornava-se uma frágil senhora, enquanto sua filha Esperanta apaixonava-se, casava-se com Falazir, um respeitável membro de uma nobre família cigana e trazia ao mundo suas 2 filhas Catrina e Arabela e é daí que se faz presente a minha história. Catrina é ancestral da minha tutora e amiga Linette e Arabela a minha ancestral.
Muitos outros conhecimentos eram me passados diariamente, já que para meus pais, assim que retornei no dia seguinte a tempestade, como uma explicação não muito convincente do que acontecera, minha rotina enquanto não estava sob o olhar atento de seus olhos, era brincar com as outras crianças enquanto para as outras crianças, era permanecer acuado, sobre a proteção de minha mãe. E diante desta pequena liberdade, a verdade apresentava-se diante de mim, nas minhas fugas diárias para a floresta, aproveitando que todos acreditavam que eu estivesse pelo vilarejo. Durante os quatro anos seguintes, me foi ensinado sobre o sangue dracônico e a descendência destas magníficas criaturas e sobre o lado druídico. Linette deixava bem claro que as habilidades vindas do sangue dracônico poderiam tornar-me naturalmente um feiticeiro, uma espécie de mago naturalmente privilegiado e que não deveria preocupar-me e sim aguardar para conhecer minhas habilidades. Enquanto isso, era constantemente presenteado com livros que falavam sobre a natureza, ervas, rituais e magias. Dentre alguns livros que li, lembro-me de Cyranides, Lithica, Magia natural, entre outros. E foi durante esse período que percebi que meu apego pelos enormes lagartos voadores, os velhos dragões, levavam-me a procurar outros tipos de animais e nesta busca conheci Sliss, a víbora que hoje é minha companheira, a minha ligação maior com a natureza.
Enquanto mais alguns anos avançavam, sentia uma pequena mudança em meu corpo, minhas unhas e mãos e pés afinalavam-se assim como meus caninos mostravam mais pontiagudos, enquanto os demais dentes mostravam-se serrilhados. Em minhas costas, 2 pequenas elevações surgiam uma em cada lado de forma paralela, quase imperceptíveis, mais que demonstravam ser pequenas cartilagens não existentes em outras pessoas. Linette explicava-me que era uma atribuição do sangue dracônico, e que eu não deveria me preocupar. Desejando mais e querendo conhecer mais sobre meu presente e meu passado. Quando atingi a fase adulta, mudei-me para a floresta e fui viver com Linette, buscando uma companhia mais compreensiva e parecida comigo. Compartilhávamos da mesma história, do mesmo sangue e do mesmo sonho. Hoje, começa minha verdadeira jornada, acreditando no mesmo que minha amiga mentora, parto em busca de mais sobre nossa história, nossos antepassados e o que se perdeu, parto em busca dos velhos escritos e parto só, pois Linette não mais possui forças para uma longa jornada, já que sua idade avançada não permite tal feito.

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