terça-feira, 7 de abril de 2009

Bulfor, Machado da Discórdia

Éramos conhecidos como grandes combatentes, mas poucos de nós restaram. Talvez algumas dez famílias e delas, apenas três seguem as tradições. Muito se perdeu, em tesouros, relíquias e lembranças, mas alguns de nós acreditam que os tempos de gloria voltaram. Alguns acreditam que um novo rei anão será indicado por Moradin. Este escolhido será aquele que convocara os anões sob uma só bandeira e neste dia os mesmos marcharão em retorno às montanhas e seu subterrâneo, para retomar a sua história e o que lhes é de direito. Contam os bardos que em grandes tempos de guerras os poderosos anões organizaram-se de forma incrível e devastadora. A frente lanceiros impediam a passagem da cavalaria, enquanto besteiros (conhecidos como “Paveses”) alvejavam a distancia os mesmos, enquanto os anões mais combatentes desafiavam arma a arma as tropas inimigas, protegendo assim seus lares e conquistando seus adversários. Dizem que o primeiro escudo de corpo, embora não pareça, foi inventado por um anão. O mesmo o utilizava para defender-se, ficando posicionado atrás enquanto recarregava a sua besta. Grandes e gloriosos tempos.
Atualmente as poucas famílias que seguem as tradições, sofrem preconceito, com a falta de compreensão e aceitação de outras raças, que em sua maioria crê que em seus costumes tribais, assim por eles chamados, deveriam ser esquecidos. Dos vários costumes que as poucas famílias orgulhosas, que se negam a esquecer a sua historia, mantiveram, estão:
A benção de Moradin: no qual o recém-nascido anão é posto sobre uma grande bigorna e as outras famílias o observam, até decidirem o seu nome e o peso que deve carregar com ele, depois o presenteiam com pedras preciosas e metal para que Moradin o acompanhe junto à boa sorte. (A mãe deve ter o filho sozinha e permitir que o pequeno anão nasça em contato com a terra);
A entrega a Moradin: diz respeito ao anão escolher a sua arma e apenas com ela trazer a sua caça. Esta será utilizada no banquete ao qual o anão entregará a si e seus feitos ao senhor dos anões, jurando seguir seus preceitos;
A oferenda a Moradin: diz respeito a devolver a Moradim o que lhe é de direito. O anão deve enterrar em solo sagrado anão, os presentes que recebeu ao nascer e uma vez na vida o que lhe for mais valioso. Um pequeno sacrifício, já que Moradin sempre recompensa e olha por seus filhos;
O primeiro anão: diz respeito a crença do surgimento do primeiro anão, neste dia pequenas jóias são quebradas, estilhaçadas e seu pó jogado ao solo e misturado com a terra. Tornando o local sagrado. Normalmente cada família o executa em separado;
Cânticos aos heróis: neste dia os anões bebem somente vinho e comem somente carne. À noite, gritam o nome de seus heróis enquanto batem as suas armas. Alguns chegam a se cortar, alem de aparar levemente as suas barbas, demonstrando que aqueles que já se foram teriam se vivos a barba maior. Um grande sinal de respeito anão, já que suas barbas são consideradas sagradas. É tão somente neste dia que um anão pode tatuar-se ou marcar a sua pele a fero quente, outros dois sinais de valor e força. Os grandes nomes tornam-se proibidos de serem usados, pois são de anões que sentam ao lada de Moradin;
A cerimônia para honrar os mortos: cada anão presente, oferta troféus de suas conquistas, e a este anão lhe é dado o direito de dizer o nome de seus entes mortos, assim como de outros anões que a seu ver merecem ser lembrados. Neste dia os anões só bebem água ou nada bebem e sempre um bom vinho é derramado ao solo para que os mortos festejem o seu dia;
A passagem dos crânios: alguns anões ao derrotarem inimigos valorosos, decepam suas cabeças, rasgam o seu peito parecendo furiosos e descontrolados, banhando-se com o sangue do inimigo e comendo o seu coração. Após tal ritual clamam a Moradin que a força e o espírito de sues inimigos o pertençam. Os crânios são limpos e passam a ser carregados como troféus até o dia deste ritual. Nos quais jóias ou moedas são cravadas ao crânio e o mesmo é enterrado para que novos anões possam nascer da terra bravos guerreiros já observando os que tombaram, mas isso não antes de encher o mesmo de vinho e com o morto compartilha-lo com um belo gole.
Muito se fala sobre estes anões, os que seguem estas velhas tradições, mas os que ousam tentar compreender percebem que existe mais respeito em sues atos do que em muitas outras crenças. Nos dias atuais alguns rituais são vistos com maus olhos, porem a meu ver é apenas mais um obstáculo da vida.
Sobre mim, sou Bulfor, filho de Balonir “Machado Trovejante”, conhecido assim por seu machado mágico. O nome de minha mão não ouso falar, pois ainda não sou digno como ela, que deu a vida para salvar outra, então os que me perguntam respondo: sou Bulfor filho de Balonir “Machado Trovejante”, filho de Moradin, herdeiro das antigas terras, como todo bom anão.
A maioria das pessoas me olha estranho e evita se aproximar, vez por outra se assustam, não por ser feio, mas por ser como eu sou. Longos cabelos presos com um aro de metal, uma vistosa barba com dois anéis de prata a prendendo e a enfeitando, rosto tatuado com símbolos antigos, braços queimados e tatuados com ferro também. Traços rudes, junto a uma voz rouca. Falo pouco e estranhamente dizem que sou grosseiro, já me chamaram de outras coisas também. Alem de carregar alguns assos em forma de colar, braçadeira e alguns presos a algibeira. Conquistas de pequeno valor, mas que me mantém junto às tradições.
A meu ver, pouco importa o que pensam ou falam as outras criaturas, essa é a minha natureza, tanto quanto um clérigo tem a sua fé, um bardo a sua musica ou um druida o seu animal. Um ditado antigo diz: Um anão é retirado da terra, esculpido por Moradim e ornamentado em batalha.
É apenas assim que vejo feliz, meu machado afiado e uma bela batalha a frente, no qual se possa tão somente escutar metais, gritos, sentir o cheiro de sangue fresco e sentir-se realmente vivo. Para mim, não existe temor diante da morte, e sim diante da possibilidade de não se ter feito nada de valor. Quero olhar a meu iguais quando se for e não sentir vergonha.
Pouco me interesso por discussões intermináveis, meu esmeril agrada-me mais nestes momentos. Como diziam os antigos: Para que discutir a cor entre duas tigelas se elas servem para a mesma coisa. Foco a minha atenção no importante, sobreviver.
Para mim um anão se faz honrar através de suas batalhas, de suas armas, de sua família e daquilo que constrói.
Próximo ao forte onde vivo sou conhecido como Bulfor “Machado da Discórdia”, por meu jeito de ser, e muito me orgulho disso. Como prefiro pensar, nasci para combater e não para questionar. Sou a lamina afiada do machado, não a mão que o empunha. Em meu coração sinto que devo buscar algo mais para o povo anão, mas me cansa pensar nisso. Prefiro afiar o meu machado até que Moradin me mostre em que direção devo empunhá-lo e estarei preparado. Se me perguntarem se tenho algo mais a dizer direi: Sou Bulfor Machado da Discórdia. Que tombem aos meus pés os que se depararem com o brilho do meu machado. Que o medo assombre aqueles que virem um anão enfurecido. Que meu machado esteja sempre afiado e o crânio dos derrotados em uma sacola. Que Moradin guie o meu caminho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário